‘UM MEMBRO DA ACADEMIA ES DE LETRAS ESCREVEU E ENVIOU UM ARTIGO SOBRE O MEU LIVRO: O PSICODÉLICO PACTO §ỬRrEΔḺ PARA O Jornal “a gazeta” caderno pensar, DISSERAM VARIAS VEZES QUE SERIA PUBLICADO MAS É MENTIRA, EU ESTOU SENDO BOICOTADO POR ESSE JORNAL DA MÍDIA CORPORATIVA. SEGUE O TEXTO QUE NUNCA SERÁ PÚBLICADO DEVIDO A CENSURA E A PATRULHA IDEOLÓGICA:’
Segue matéria censurada:
Desde o episódico lançamento em conhecido bar rendez-vous no Centro de Vitória(ES) o livro O Psicodélico Pacto Surreal já vem rendendo assunto nas rodas literárias. Afinal, o que é a obra sob o acrônimo OPsiPacSur ? Quem é o seu verdadeiro autor que só assina Tony Zax, um pseudo nome que muito lembra os autores de bolsilivros de faroeste ?
Segundo o próprio Tony, na orelha, de uma antinovela picaresca narrada em estilo folhetim aproxima-se a obra, que ele, um anarquista, não pretende ver inserta nesta ou naquela habitual classificação dos estudiosos das Letras. Sem linearidade, sem cronologia ou sem continuidade, toda a tessitura segue tal o fluxo do inconsciente, propondo desmantelamento de inflexíveis valores, ruptura de plataformas estéticas e ideológicas. Leitor logo entenderá que se quer, com ela, zombar e combater o establishment artístico, demolir os paradigmas, num deliberado exercício de Arte da Demolição. Afinal, o que é Arte senão a ruptura de estruturas já bem sedimentadas ? Essa peleja contra o status quo fez o artista elaborar um certo Manifesto Glacê, que se propõe antimovimento artístico, até incendiário, sobretudo iconoclasta, porém, que comungue artistas e autores locais, sempre na tentativa de contestar dogmas.
Se quixotesco, o ortônimo Anthony Waldemar Marques não é um desavisado, nem tampouco um verborrágico em delírio paranóide. Filho de pais brasileiros, nasceu em Jersey City (New Jersey, EUA), em 1963, mudando para Vitória(ES) em 1973. Retornando aos EUA, reside em New York (1982 a 1994), onde frequenta galerias de arte, enveredando pelo mundo das Artes Plásticas, onde estuda produção de roteiros e frequenta oficinas literárias. E é nessa fase que, numa coletânea, lá publica o poema “Times Square reflects in your deep dark eyes”. Também colabora na série “Escritos de Vitória” (PMV) nº 26 (Ilha) e nº 27(Pontes). No primeiro (2009), publica o primeiro capitulo de OPsiPacSur, intitulado “O Conto do Vigário do Segredo de Vaguinho”; no segundo (2010), participa com o conto “A Brisa”.
Ciente dos caminhos que legitimam como Arte uma dada obra, Anthony W. Marques cercou-se de todo um aparato de marketing(no caso, de antimarketing): antes de anunciar como excelente o seu produto, calunia-o, profana-o, despreza-o (“Não leia nem divulgue OPsiPacSur ! Ligue a tevê e assista a uma novela”). E até no decurso do texto ou no rodapé, ou, ineditamente, com antianúncio na página de classificados. Noutra estratégia, limitou a 150 exemplares a primeira edição, e só vendidos com selo certificador. As possíveis edições seguintes seriam apenas espécie de panfletos de propaganda dessa arte conceitual.
Enxergariam nessa atitude antiarte um resquício do Dadaísmo, ou, ainda, um ready made que, na contramão da arte histórica, na História da Arte o nome de Marcel Duchamp já inscreveu . Bem explícito está em Opsipacsur o típico propósito dadaísta de chocar o espectador. Uma arte calcada no conceito, que se desenvolve a partir do ‘encontro’ (rendez-vous), ou seja, do achado fortuito, da blague (história engraçada, imaginada para enganar) que, de modo desinteressado, dote de sentido o objeto( texto), e que, assim, fará com que a obra, para qualquer sujeito(leitor), exista de igual modo. O próprio Sumário do livro, divididos em duas partes, já bem nos induz ao que virá: muitas das 30 sinopses, são, por si só, se isoladas, um conto. O fantástico Dr. Croydon, protagonista sobretudo da 1ª parte, teve nome retirado dessas máquinas extratoras de suco.
Ficção de viés surreal,narra uma odisséica viagem a bordo de uma nau de papel chinês, tornada pirata após separar-se de esquadra corsária, sob bandeira lusitana, em rumo à circunavegação do planeta, sempre com passagem por inusitados lugares e situaçoes. Nau esta, livre, ao sabor das marés, que é uma metaforização do mundo, vez que nela desfilam história universal da Arte, Filosofia, mitologia, religião, períodos históricos, e até o início e o fim do Universo. Guarda, nesse enredo, similaridades com “Um Púcaro Búlgaro”, do singular Campos de Carvalho; romance surrealista que, beirando um discurso esquizofrênico, narra, também com humor e nonsense, uma dada expedição marítima.
Tivemos, na década de 20, Mendes Fradique, pseudônimo do capixaba José Madeira de Freitas(1893-1944), que, com visão sarcástica e caótica, pelo “metódo confuso” recontou a História do Brasil, tornando-se um dos maiores sucessos editoriais.
Gabriel Garcia Marquez parece ter sido um que sobre Anthony W. M. exercera radical influência (“levou-me ao céu, e vi que era através do realismo fantástico que se pode escrever um livro inteiro de poesia em prosa”).
E assim, em fugindo de rótulos e de formatos, em estabelecendo diálogo intertextual, múltiplo, numa prosa poética (no sentido de “criativa”), a mui artística ousadia de O Psicodélico Pacto Surreal já a instaura como obra bem merecedora de diegese e, em especial, de leitura.
Marcos Tavares é autor de GEMAGEM (poemas) e de “No Escuro, Armados” (contos). Membro da AEL